Terça da Benção
Terça da benção, Mosteiro de Santo Antonio... Largo da Carioca. Depois de ir no edifício Avenida Central, resolvo passar por lá... há aquela porção de pessoas pedintes, o corredor enorme para chegar no elevador e a cruz com iluminuras bem bonita, estampando a parede branca, já acidentada pelas intempéries. Aquele lugar cheira à memória para mim. Aos 17 anos, trabalhava no centro, e era para lá que me dirigia; apesar de minha não fé católica desde os 14, como gostava de ver a cidade de cima! E gostava de ver o Padre sacudindo aquele vassourão de água benta no final da missa. Entrar naquele lugar significa reconhecer prumos que tomei nesses anos... fiquei a pensar, ao subir no elevador, olhando nos rostos das pessoas, quais as nossas necessidades... o que nos impulsiona, além da fome, da sede, do tesão, do amor, da vontade... Chego à Igreja, meio de missa, bem na hora de ofertar... passei direto e fiquei a olhar as pessoas novamente, espécie de vício antropológico: a senhora mal humorada que nem disse Paz de Cristo para ninguém, o casal curioso, turistas, de certo, que olhavam para a arquitetura; as devotas fervorosas a marcar seu lugar no céu. .. Observei-me naquele mar de gente. E, como aquele lugar é passado-presente, vi-me nos anos. Subitamente, olhei para aquelas pessoas todas, sem saber nada delas, sem ter qualquer interesse nos seus defeitos ou qualidades e as amei por completo. Não sei bem por que. Meus olhos se encheram d´água. Um amor imenso, que acariciou meu coração. Embora grande, não foi excesso, foi na medida do milagre. Senti-me criança e mãe. Foi um segundo, mas já valeu.
Bom, lá pelas tantas, o Padre falou da mensagem de Natal que estava no folheto para a comunidade: (...) o místico alemão Angelus Silesius asseverou que Cristo pode nascer mil vezes, e nascerá em vão, se não nascer em nosso coração. esta é a beleza jubiloza e a tragédia possível do Natal. Deus nasce, mas não pode continuar nascendo numa estrebaria. O berço de Deus é o coração humano. O teólogo franciscano, Leonardo Boff, tem um pensamento irretocável sobre o Natal: "toda criança quer crescer e ser um homem grande. todo homem grande sonha em ser um rei poderoso. todo rei poderoso deseja ser deus. Somente Deus quis ser Criança".
Então, que essa criança nos nasça, que sua vibração Crística esteja conosco. Independente de crença ou religião, Jesus, chamado o Cristo, é uma das imagens mitológicas que remetem à ideia de totalidade. Que possamos vibrar nessa energia. Puros, ativos, abertos, sinceros e brincalhões como crianças pequenas, felizes com o milagre da vida. Para quem é desta fé, a dança dos Orixás, sua re-lembrança em nossos corpos, vem até nós para que possamos lembrar que somos também maravilha. Feitos de fagulhas numinosas, tal qual estrelas no céu. Então, como dizem os sábios e sábias, Sejamos no Mundo!