Sobre escrever

Muitos já afirmaram que a trama da escrita requer trabalho árduo, talento, inspiração... Todos devem estar certos. Há algo que considero muito importante: movimento. Às vezes, quero devorar nomes. Eu, como um labirinto, esqueço porque comecei certas coisas. Sentimos o movimento queimando por dentro, deixando um vazio que urge ser preenchido. Nuvens esparsas passando num céu sem estrelas, uma imagem da passagem do tempo. Tempo, mais devastador que ousamos perceber. No labirinto, caminho tortuoso. Caminho verde, umidade fresca. As árvores desse caminho, árvores pais-mães. Árvores anciãs. O movimento é testemunho e cúmplice nesse torvelinho de coisas, erros podem se transformar em acertos. Só há escolha, o certo e o errado ficam por nossa conta. Há um lugar onde minha amendoeira descansa em paz, no paraíso das árvores que foram mortas. Pássaros brincam nela, a colméia ainda cresce. Tudo se move. Barracão rodando, pessoas reunidas em torno do sagrado, o bater de atabaques, som, Som. Tudo em círculo. Todos juntos, peles lado a lado, juntas, no mesmo ritmo - uma via láctea de gente. Vazia de imagens, estou aqui.

Fotografia de Mayra Vaz