Meu outro nome
Há pouco tempo descobri que este nome Iaromila é encontrado na língua eslava e significa sacertodiza do deus solar Iarilo. Eu gosto do som... o escolhi porque gosto de uma cantiga sacra afro-brasileira que soa um nome parecido... quem conhece, sabe. Imagine a minha surpresa quando soube que ele é afro-eslavo-brasileiro?
foi um dos primeiros textos que publiquei neste blog, em fevereiro; lá estão as colagens de minha autoria.
Utilizo "Iaromila" desde 1998. É uma marca.
Uma professora falou da frase de Clarice Lispector "me deram um nome e me alienaram de mim". Como isso bateu forte! Iaromila é um nome que me dei, a partir do momento que entrei em contato (pelos 29 anos)com o significado real de meu adorado "outro" nome: Mônica Valéria. Iaromila é o nome que escolho, prazer. Cicatrizes tenho hoje, não mais feridas. Provavelmente serão outras. Muitas curas se dão durante uma vida, muitas mortes e muitos renascimentos. Nas outras vidas, amigos que não existem mais, gente boa, gente não tão boa, dores em família, superação de cortes, alegrias tenras. Como o velho avô Obaluaiê, aprendemos a viver com as cicatrizes e não nos comprazemos delas, elas apenas são. E seguimos até quando for o nosso tempo nesse mundo. Como o Sr. Nei Lopes disse outro dia: "Que ele (Babaluaiê, Obaluaiê) nos dê bastante força pra levar a caminhada até quando tiver que ser, como Olofim determinou e como Orumilá transmitiu."
Iaromila
Iaromila é um nome que escolhi O som me agrada, há silêncio nele. Adoro conversar, longamente, sobre nada, sobre tudo. Como se tivéssemos todo tempo do mundo Feridas carrego, ainda cicatrizam Penso muitas coisas, procuro não ter certeza de nada Aprendo, como uma menina, as certezas do corpo As lágrimas que verto sempre me lavam São como um rio Os sorrisos que ofereço, e agora são muitos, me re-descobrem Iaromila é um peixe... poderia ser um felino, uma mariposa, uma águia, um javali Uma flor, uma montanha. Lava crepitante A mais branca neve do início do inverno O mais negro carvão do fundo da terra O barro marrom do profundo da lagoa Iaromila é Mulher, Mãe, Menina-anciã, Anciã-menina. Vejo-me no meu filho, nos meus pais, nos meus ancestrais, e no meu próximo.
Das paisagens que meus olhos já viram, quero pouco saber Quero mais é sentir Quero pensar menos, mas às vezes sou só pensar Como dizia Mario de Andrade “sempre gostei muito de viver, de maneira que nenhuma manifestação da vida me é indiferente”. A vida que é definida por conceitos não me interessa Renascer faz parte de mim Morrer também Entre morte e renascimentos Aprendo. A leitura me acompanha desde sempre, mas não me protege mais Estou desprotegida, só minha teimosa e perigosa inocência me cobrem. Ela passa por dentro de mim, como o ciúme, a raiva, o desejo, a fúria, a compaixão, a poesia. Entra pelo ar que respiro e vai embora
Por isso, definições são tão difíceis. As cores são muitas... E todas me atraem Estar numa mata é um prazer singelo, me centra, me ensina a respirar Não me arrependo de amor, paixão, tesão Celebro cada um deles, dos mais tolos aos mais dolorosos Aquilo que brota da vida merece respeito A cura vem aos poucos, de uma música fugidia Lembrar é bom, lembrar para depois esquecer é ainda melhor Cantar é ouvir Silenciar é necessidade
Este texto é de 2009, mas começou a ser escrito em 2005.