Pairar

Cessar controle Estar diante da visão Ampliar horizontes Sobrevoar ilusões Ver Deixar-se livre de anseios Em enlevo com os sonhos Embalando-os Movimentar-se em Uníssono com o Ser Que tudo inclui Música Inspira pausa Numa ponte que nunca acaba Recomeça Retorna Respira Agir na hora de agir E seguir sarau De silêncio e som

Lar

No início há o ensejo O chão de uma casa anterior O caracol de peles, choros e cheiros E o pairar convida ao som do todo O som saúda minha voz A voz do todo sou eu Eu Som Eu Suor Eu Lágrima Eu Espiral Lá onde nada há Eu nada sou E sou tudo em absoluto Grão e Deserto Gota e Oceano No Uno há Um No Uno há Mil Uno Inumerável Exista! Existir é tudo que há Se estar é respirar Presente é a vida que sente-se Ar O pulsar do Sopro É Chamado à Carne e à Alma Retorna ao solo da mão Onde a raiz e a copa Comunicam-se na Ponte Infinita que É a seiva Que a seiva É Que é a Seiva Que a Seiva É ... ... ... Eternidade Instante ... Eternidade e Só

Memória

Impressionante sujeito humano Fraterno/Fraterna que conhece dor Como todos os que vivem Para evitá-la, constrói castelos Os derruba Os inventa Nega que existam, Mas submetessem à sua ação Quão importante é dizer“não sei” Porque verdadeiramente muito pouco sabemos do que vai no coração-alma do outro E tentamos explicar com palavras O que é por vezes inexplicável Entretanto, precisamos persistir Na nossa humilde busca Os males, doenças, patologias, dores São gritos, sussurros entre vozes e silêncios De todos nós Que ao final, somos Um Só

Saudades

Pulso pulsa Evocação Mágica De uma presença Ausência sentida Que brota e Cintila Planta que cresce Acorda Desperta Há você Eu existo Entre nós Similar ao impossível Provoca forças Quereres Solto de exigir Canto obscuro Madrugadas insones Arcanos Segredos Que o sol do dia Chama à vida Ocultando o medo De não mais ver Porque a visão Acompanha Todo o tempo Aceitação Entrega Vôos internos No externo, luzir Amor Abrigo de asas Chão-Céu Flor Bruta Crua Dor Se mistura com o sangue que corre nas veias Saudade

Fluxo-Fonte-Flor

Um sol nasce em mim quando realizo o desapego Entrego-me fluxo ao rio Sigo Uma lua brota no solo do meu sentir À magia do dia e da noite, devoto-me, em enlevo. Do tempo que dança Em passos sutis que são como vulcões Lava incandescente Vida Espiralada Colorida e Livre Um céu azul de outono fala comigo E diz verdades às minhas ilusões

Expansão

Embora também seja escuridão Escolho a luz Embora saiba a tristeza Opto pela alegria Embora as lágrimas me lavem Os sorrisos me retornam Ver milagres traz responsabilidade aos olhos Dor é inevitável Sofrimento é escolha Caminhar Na profundidade do Ser Na simplicidade dos afetos Em veracidade É desafio de todo dia Arvore-ser Aceitação Caminhar sobre a ponte estreita Entre desesperos Pés sobre a terra doce Cabeça sob o céu aberto Leal às entranhas, ao corpo Atenta aos sussurros da alma Viver Só e Junto, em silêncio e som Pureza e Ousadia Soltar-se ao vento E quedar-se ao Sopro Desapegar-se Na água-fogo de ebulições tardias E Ainda assim Brincar Mãos dadas com o presente Como brincam as crianças Em encantamento Que existir é magia

Entranha

Vísceras Viceja Viaja Borda tépido nascimento Tecitura da dor ao prazer Força da Natureza Ser Estar Presença com tato com olho com ouvido corpo inteiro centelha luz no tempo-espaço na vida-morte-vida Estilhaço Estampido Energia Rodopio de fogo Mar bravio Cristal de água Plasma Placenta-Matriz Mãos-Mãe Vazio e Forma Suficiente Gratidão

Crepuscular

Entre o sono e o despertar, momento crepuscular, respiro No sopro, uma pausa, o surgir da alma, sinal Um tom de infinito cintila, controle e anseio distanciam Permanece o encontro, intenso, perene Viajante de tempos outros, misturados em presentes Indiferença é o que mata o amor Seta certeira a alcança e transmuta Vontade possível em medos ancestrais

Entre sonho e realidade Incidência com a vida espelha o destino O reflexo é incerto A muralha já ruiu E o sentimento é o que cativa Rio-fluxo-árvore-fonte A fonte quer ser bebida Em uníssono com a natureza

Força delicada e penetrante Olhos da alma observam o fio Peito aberto à luz e às trevas Certeza ondulante de água funda Cristalina superfície de fogo azul Saber-se origem, separar-se Misturar-se é fugir do mistério Entrega é mão que toca o vazio Retorna ao caminho e É Sem mais Querer Ser

Caminhada Solo preto, fértil, molhado Ruidoso em seu silêncio De entranhas Encorpado em raízes Profundas Que continuam crescendo Até o mais fundo Desse chão vivo A partir da força Cresce um tronco marcado Reentrâncias sinuosas Firme proteção À suave seiva Que verte da terra ao céu Seu rumo estrela Tronco imenso Muita história O tempo teceu sua trama As ramas cabelos Da grande árvore Meneiam soltas ao vento Recebem sua mensagem Grandes galhos, verde folhagem Permitem mortes Sorri Nascimentos Ser finita é parte de seu destino Enquanto permanência Respira presença É então vislumbre do eterno Partícula da fonte Natureza

Lila

Coração que pulsa Vazio Sangue sem tempo Olhos flutuantes sobre o céu Fogo crepitante Esquecimento Carne espelho Ar suspenso Vozes em Canto Olhos além da visão Em palavras puras Nuas Sol que brilha em meio à noite escura Pele macia, áspera, quente Toque No perfeito do encontro Verbo faz-se encanto Brincadeira é vida Fogo que ilumina Amor inteiro

Sobrado

entre o sombrio inaudito e a luz que convida ao nutrir a menina ri ri de nada ri de si ri da rua solitude inocente na casa vazia

Corpurificando

Sinto com o corpo Penso com o corpo Mas nunca soube Por isso ele dói Essa parte de mim, tão íntima e revelada Sempre me foi secreta Aí está a vida chamando o alquimista Que vive em mim

Aliceando

Criança do semblante puro e desanuviado E dos olhos sonhadores de maravilhas! Embora o tempo se escoe, e eu e tu Estejamos separados por metade de uma Vida, Teu sorriso adorável certamente evocará O dom do amor de um conto de fadas. (Lewis Carroll)

Não lembro quando li esse verso pela primeira vez... mas a sensação ficou. Eu, pisciana, fui/sou uma criança de semblante desanuviado e olhos sonhadores de maravilhas. Sou a mulher sedutora e ladina. Sou a velha árvore que observa as brincadeiras do tempo. E não sou nada disso. Sou apenas energia que um dia voltará para Olorun e nele pousará vazia.

Verá todas as minhas vidas Velha, Criança, Mulher Concubina Menino, Homem, Ancião Freira, Monja, Meretriz Intenso é o sentir Tão imenso que não cabe no peito É vento E assusta Muitas coisas são guardadas Não segredos, mas amarras Adagas que ferem a carne macia Quando falo Falo com a alma Não há em mim palavras vazias Isso não é desse mundo Mas é nele que vivo É nele que circulo em torno da grande ruína É nele que alço vôos nessa existência fugidia Não sei jogar Nunca soube Transmuto eus para falar com outros Os amantes Os que amo São sempre mestres No caminho Silenciar e ser eremita E mesmo assim dançar, brincar, rir Falar com a carne da alma, puro sentir Deixar a Luz tomar o Deus que há em mim E deixar brilhar até a sombra que também me traduz

Novelo

Tear do invisível De tempos diversos Cada minuto junto Gera horas infindas Miríade de teceres Nada se sabe Além do sentir Cheiros Toques Simples sentimento Delicadeza Novelos de dúvidas Pra que saber? O tempo brinca O corpo pulsa Puro fluir Desejo Subterfúgio Energia intensa Sangue que ferve Corpos se buscam Mentes se afastam Tempo não sentido Porque há olhar