Bandeiras Azuis
... Bandeiras azuis... apenas bandeiras Tremulavam e bailavam frente ao vento quente do verão Ainda bem que havia vento Senão, apenas vapor Impraticável respiraração... Bandeirinhas que tremulavam naquele esquecido templo Outono Inverno Primavera Nas pequenas bandeiras imagens Búdicas. Todos os encontros possíveis naquele ondear Tudo vertia pregresso Aquilo já não existia Forma atemporal Espiralando o balanço ao vento Um esquecer que nunca fora possível antes Um deixar-se crível Visão da luz que se apresentara tênue E, agora, Nem tão sussurrante assim Gritava as palavras mortas Antes mesmo de proferidas Bandeiras azuis e roxas Mantras num sânscrito mal escrito Incompreensíveis. Vento verde-azul da distância que se faz.
Moinho
Meus sonhos: oráculos Fazem planar As inquietantes Labaredas Paciência Parcimônia Parcial Partes de mim Partem de mim Mil borboletas Cores: Improváveis Amores: Impossíveis Meu lugar Ainda é solidão Como se é fluxo Assim? Quando inquieta Ouço o bater de um coração Como se fossem dois No lume das estrelas Conto os dias Desmancho-me Botão em botão Para amanhecer Mais inteira
Solitude
"Quando então se pensa em poemas, tomam-se tais caminhos com poemas? Serão esses caminhos somente des-caminhos, des-caminhos de ti a ti? Mas ao mesmo tempo são também, em tantos outros caminhos, caminhos nos quais a língua se torna sonora, são encontros, encontros de uma voz com um Tu perceptível, caminhos de criaturas, esboços de existência talvez, um antecipar-se para si mesmo, à procura de si mesmo.... Uma espécie de volta a casa." (Paul Celan)
Fogo Violeta Grande labareda alquímica Cada qual urge por transmutar Elementos há muito aprendidos Há pouco recolhidos como se não pudesse partir Apegos deixam-se ir Observadora, permaneço em amor Asas se abrem. Voas, assim como eu. Liberto-me Tempo de coração ferido Ficou na pedra boji que se partiu Zingra ao vento do instante A terra interior Brotos vindouros, sementes venusianas Flores se abrem ao sol Renovação de todas as manhãs Morro ao dormir Renasço ao despertar Pequena Fênix Doadora, em confiança na vida Histórias acre-doces trazem sorrisos Em silêncio, mesmo em silêncio No astral dos mundos o encontro é real Palavras são inúteis ali Há notas de puro contentamento Lágrimas acolhidas como chuva fértil Gratidão Prece pura no chão dos 4 elementos Cura da Criança Ferida Crescimento e Brincadeira Cavalgando o coiote que reside no sul Destemida, poesia em espiral, amante Em corpo e alma Só
A árvore
A folha vento levou Encontro com pássaro-tempo No ritmo de águas revoltas O pássaro se foi Encontrou a água de rio mais sereno Água rolou quente-fria-quente-fria Seguiu caminho rumo ao mar Sobrevoa o oceano e seu mistério O vento sopra sua voz Encontro de águas salgada-doce Clamando o pássaro de volta à folha Floresta-coração, coração da floresta Lá ele torna É dragão, é libélula E torna pássaro É mulher, é homem, é bicho, é som Canção de noite escura Ritmo toca a semente Germina Árvore plantada que tudo vê Árvore que anda e tudo ouve Árvore-ser Galhos altos Raízes profundas Continua seu crescer A cada cantar
Da Caverna
Queimou-se a pele Tudo se tornou demasiado cálido Caverna abriu-se aos passos O corpo pulsou Quente e iluminado Dizendo não à necessidade Dizendo sim ao puro desejo
Negar tal sentimento Não o faria cessar Mãe da luz arranca espadas O músculo cura-se vibrante Torna-se forte ao aceitar-se frágil
Não entender Vale a pena hoje Ansiar, por nada Brincar Com a energia de uma criança Tocar o incognoscível com uma dança Viver tudo, amor, dor, desejo, saciedade Observadora dos atos da vida Curiosa
Nada a recusar Tudo se agrega Ao aprender Negar o que se passa é buscar trapaça É desamor Apressar-se às respostas Pra que? Se nem há perguntas Aceita-se o sabor dos ventos Em amistoso bailado Flores e folhas que se misturam Juntar-se em solo fértil é possível Dar-se ao êxtase sem medos e fantasias É celebração da existência
Sem espera de tempo algum Ondulando no presente Ao tocarem-se, peles que iluminam sorrisos E o queimar desaparece